"Deixem-me dizer que creio firmemente que a única coisa
que devemos temer é ao próprio medo".
Franklin Delano Roosevelt
Há uma história apócrifa sobre o presidente estadunidense
Franklin D. Roosevelt que diz que quando era visitado por representantes de movimentos
sociais ou sindicatos - que lhe procuravam para propor a incorporação de alguma
política de cunho progressista no New Deal -, ele os recebia, ouvia o que
diziam e finalmente respondia: "Agora vão lá para fora e obriguem-me a
fazê-lo". Roosevelt, o trigésimo segundo presidente norte-americano, fora
o responsável pela recuperação dos Estados Unidos dos efeitos da crise
econômica de 1929. Ainda hoje é tido como um dos maiores presidentes daquele
país.
Acredito que o exemplo do falecido presidente estadunidense possa
servir de norte ao governo da prefeita eleita de Ribeirão das Neves, Daniela
Corrêa (PT), no que tange à governabilidade e à aprovação de medidas que façam desse
sofrido município um lugar melhor para se viver.
Desde tempos imemoriais, grassam em Ribeirão das Neves o
compadrio, o nepotismo e a manutenção de currais eleitorais capitaneados por
“coronéis” sempre dispostos a transformar o público em privado, não sendo raros
os casos de voto de cabresto. Foram muitos os que sobejamente se fartaram às
custas do erário público, mas foram e têm sido poucos os punidos por enriquecer
às custas da miséria e sofrimento do povo nevense. A corrupção e a improbidade
no trato da coisa pública (res publica)
constituem alguns dos motivos de Ribeirão das Neves ser a cidade com o mais
baixo IDH dentre as da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), e uma das
mais pobres de Minas Gerais.
Sempre que algum indivíduo residente em Ribeirão das Neves,
mas oriundo de outra cidade, se candidatava à prefeitura, tornava-se alvo de uma
sistemática campanha de difamação protagonizada pelos auto denominados “filhos
da terra”. Para ilustrar esse fenômeno, devemos remontar ao início da década
passada. Durante a campanha eleitoral de 2000 os principais candidatos eram
Dirceu Pereira e Aílton de Oliveira. Certa
vez, o vice de Aílton, Dorival de Souza Rocha, popularmente conhecido como
Neném de Quinzinho, bradou efusivamente do alto de um carro de som durante um
comício, dizendo que Neves deveria ficar atenta aos forasteiros que
desembarcavam na cidade. Referia-se, logicamente, ao jornalista e radialista que
com Aílton polarizava aquele pleito. Naquelas eleições, porém, Dirceu sairia
vitorioso.
Esse exemplo ilustra com certa eloqüência a mentalidade de
alguns nevenses desavisados do processo sócio-histórico que culminou na
Ribeirão das Neves como a conhecemos hoje. Longe de querer esgotar o assunto,
Neves é o município da RMBH que mais cresceu em habitantes nas últimas três
décadas. Muitos acadêmicos estudaram o boom
populacional da cidade, bem como as consequências deste sobre a qualidade de
vida do povo que nela reside. Chegaram a conclusões diversas, mas concordaram
que o crescimento demográfico do município e, por conseguinte, sua desordenada
ocupação, derivam diretamente da dificuldade de aquisição de imóveis em outras
cidades da região, sobretudo Belo Horizonte. Ribeirão das Neves é, portanto,
uma cidade cuja maioria populacional proveio de outros municípios.
Tendo isso em vista, imbuir-se de um sentimento hostil para
com candidatos a cargos públicos oriundos de outras cidades, mesmo que há algum
tempo residentes no município, é, no mínimo, falta de informação. A propósito, em
2009, o patrício e ex-prefeito de Ribeirão das Neves, Aílton de Oliveira, foi
condenado a devolver 21 milhões de reais aos cofres públicos por
irregularidades em seu governo.
Daniela deu início a sua trajetória político-eleitoral vista como uma outsider. Pesquisa do Instituto
Datatempo/CP2, publicada pelo jornal OTempo em 08 de abril de 2012, mostrava a
petista com apenas 1,1% das intenções de voto, bem atrás da favorita àquela
altura, a tucana Gláucia Brandão, cujas intenções de voto chegavam a 40,1%.
Sabedora da sua pouca notoriedade, Daniela iniciou sua
campanha com os pés no chão, literal e figurativamente. Desceu do salto e caminhou
por todos os cantos da cidade, sujou os pés em ruas ainda sem pavimentação,
desafiou os obstáculos decorrentes de uma cidade carente de infraestrutura
básica, dialogou com lideranças sociais, enfrentou intempéries climáticas e
políticas para fazer-se conhecida. O argumento de seu pouco tempo de residência
na cidade foi intensivamente utilizado por seus concorrentes, bem como sua
falta de experiência política. Com paciência e elegância, soube contornar a
vileza de alguns adversários políticos, sobretudo quando estes depredavam seu
material de campanha, lançavam-lhe impropérios de toda sorte e até mesmo
ameaçavam sua integridade física e a de seus correligionários, como ocorreu durante
o primeiro debate dos candidatos a prefeito promovido pelo Sind-Saúde local no
dia 23 de agosto de 2012.
O profeta bíblico Zacarias alertou quanto ao desprezo do dia
dos humildes começos (Zacarias 4:10). Portanto, ninguém despreze quem inicia
sua trajetória de forma humilde. A candidata do PT venceu o pleito com 57,31% dos votos
contra 37,94% dos votos dados a Gláucia Brandão. A campanha de Daniela Corrêa
logrou êxito em granjear as esperanças do sofrido povo nevense. No fim, a
esperança venceu o medo.
Daniela sempre frisou que sua gestão seria marcada pela participação
popular. Em seu discurso de posse afirmou: “Este caminho eu não posso trilhar
sozinha. Conto com a participação de todos os conselhos instituídos e de todos
os movimentos populares de Ribeirão das Neves. [...] A ação integrada de todos
os setores da Prefeitura e a participação da sociedade é o caminho para a
redução dos erros de nosso mandato.”
Ela está correta, tal como estava Franklin Roosevelt, um dos
mais saudosos presidentes norte-americanos, cujo nome está gravado de forma
indelével na história dos EUA e no coração dos estadunidenses. Oxalá Ribeirão
das Neves se lembre de Daniela por muito tempo!
A prefeita acena positivamente para a sinergia entre governo
e sociedade em sua gestão. Seu discurso insta os movimentos populares, os
sindicatos, os conselhos, as associações, enfim, toda a sociedade civil
organizada a participar, na qualidade de parceira, da construção de uma
Ribeirão das Neves melhor para todos.
Daniela parece estar dizendo ao povo de Ribeirão das Neves:
“obriguem-me a fazê-lo; obriguem-me a mudar a cara de Ribeirão das Neves;
obriguem-me a mudar o paradigma da cidade...”.
Resta, portanto, aos nevenses o aprimoramento de sua
cidadania e a convicção de que sem participação popular dificilmente um(a) prefeito(a)
alcançará as metas propostas em seu plano de governo.
Boa sorte ao povo de Ribeirão das Neves! Boa sorte a Daniela
Corrêa!
*
Cléber Sérgio de Seixas é estudante de Serviço Social, ativista de
movimentos sociais, Secretário de Formação e Propaganda no diretório
municipal do PCdoB em Ribeirão das Neves e blogueiro no tempo que resta.
Fonte: blog Observadores Sociais
Fonte: blog Observadores Sociais